Pesquisa de R$ 500 mil busca modelo sustentável para indígenas das Aldeias Jaguapiru e Bororó

Foto Funai/Lucas Vieira.

A falta d’água na Reserva Indígena de Dourados trouxe de volta ao noticiário a precariedade em que vivem guaranis kaowas e terenas, situação que teve promessa de solução após cenas de ação da Polícia Militar, que tentou acabar com os protestos usando bombas de efeito moral, até ferindo indígenas.

Após a pressão, já começou a movimentação para perfuração de poços para atender as 26 mil pessoas. Em meio ao cenário de carência, surge um projeto envolvendo pesquisadores de todo o País para ouvir a comunidade das Aldeias Jaguapiru e Bororó e pensar em soluções que possam trazer sustentabilidade para as famílias.

Um convênio envolvendo a Secretaria da Cidadania, Embrapa (Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária e Faped (Fundação de Apoio à Pesquisa e ao Desenvolvimento) já foi publicado em Diário Oficial e deve ser assinado essa semana pelo governador Eduardo Riedel e a chefe geral da Embrapa, Ana Euller. O capitão da Reserva, Ramão Fernandes, já foi chamado para vir a Campo Grande para a assinatura nesta segunda-feira. Sem saber ainda exatamente como será a iniciativa, ele diz comemorar a possibilidade dos indígenas desenvolverem atividades produtivas e se fixarem no local, que tem 3,5 mil hectares, entre as cidades de Dourados e Itaporã, e é a terra indígena mais populosa do País.

Ramão se lembra que há cerca de 15 anos já houve iniciativa de apoiá-los em atividades produtivas. Havia hortas e criação de galinha. “Cada um fez uma granjinha”. Mas a condição não se perpetuou. Hoje, os indígenas trabalham em diferentes atividades, uns vão colher cana, outros foram ao Sul colher maçãs, mulheres e jovens trabalham na cidade. A reserva é o retorno para dormir, como um bairro.

O chefe da Embrapa Agropecuária Oeste, de Dourados, Harley Nonato de Oliveira, entidade que deve comandar o trabalho de pesquisadores, vê a parceria como uma grande oportunidade de pensar em iniciativas sustentáveis juntamente com a comunidade, além de aprendizado para os técnicos, que poderão ser aproveitadas com outros indígenas. Segundo revelou, profissionais da Embrapa de outros estados já envolvidos em atividades semelhantes contribuirão com a experiência. O prazo de vigência do convênio para a pesquisa é de 24 meses.

Pesquisador cita povo surui, em Rondônia, que tem o café como uma das principais culturas, com apoio da Funai (Foto: Funai/ Lucas Vieira)
Conforme explicou, não haverá remuneração especial para os envolvidos, que já são servidores. Os recursos serão para a logística do projeto, como trânsito de pesquisadores, visita a aldeias onde já há iniciativas que ajudaram os indígenas a ter autossuficiência e melhoria da vida. O resultado disso será utilizado para o poder público adotar políticas públicas para aquela comunidade.

Oliveira cita como exemplo os indígenas surui, de Rondônia, que receberam apoio do poder público para profissionalizar o cultivo de café e hoje tem um produto premiado, que traz sustentabilidade. Eles ainda plantam banana, cacau e castanhas.

Oliveira contou que a Embrapa teve atividade pontuais na Reserva ao longo dos anos, o que muda agora é a ideia de buscar uma ação global. Em nível nacional, há ações em 19 das 44 unidades da instituição. A terra indígena também recebe projetos das universidades de Dourados.

O trabalho envolverá diálogo com a comunidade, conhecimento de aspectos sociais, culturais e ambientais da vida na Reserva. Vão também buscar as potencialidades e mapear as práticas produtivas que podem fortalecer a comunidade. Será uma construção, não será levado um modelo pronto, mas buscado pelo diálogo, aponta.

O assunto começou a ganhar corpo há meses, lembra. A titular da Cidadania,  Viviane Luiza da Silva já desenvolveu projetos com cultura indígena. A iniciativa deve envolver ainda outras instâncias, como Funai e Ministério dos Povos Indígenas. O chefe da Embrapa acredita que o grande ponto desse projeto é a integração de pessoas e instituições.

O desafio é ajudar os indígenas a viver melhor. Oliveira aponta que onde há segurança alimentar, a qualidade de vida se eleva. É também a esperança do capitão Ramão. Nascido ali, com 67 anos, vendo filhos e netos também na aldeia, ele conta que as famílias recebem cestas básicas do poder público. Identificar uma atividade produtiva que envolva a comunidade pode ser um ponto de inflexão para um grupo que se tornou conhecido pelo drama passado com o suicídio de jovens,  a presença de álcool e drogas e uma vida em condições precárias, como a falta d’água –

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CREDITO: Maristela Brunetto/CAMPO GRANDE NEWS.

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